À frente do histórico terreiro do
Gantois, considerado patrimônio nacional, a ialorixá Mãe Carmen (foto)diz que “o
candomblé é como uma grande família, um grande útero”. O uso da metáfora pode
ser atribuído ao domínio feminino na liderança das religiões de matriz africana
e pela relação mais próxima que estas desenvolvem com a natureza, seus
elementos e ciclos.
Denis Luna
O que me motivou a pesquisar,estudar e buscar a fundo a história do nascimento do Candomblé no Brasil e a escrever este artigo, foi o depoimento da majestosa Mãe Carmem e um debate construtivo que tive,com meu grandioso e valoroso amigo Eduardo Fagundes referente ao tema "Mulher não toca atabaque"
A nossa religião, na África é
comandada por homens, no Brasil se deu o inverso, porque aqui as mulheres foram
as primeiras a conseguir as alforrias. Quando elas conseguiam as alforrias,
elas já se tornavam comerciantes, elas vendiam jóias, vendiam mugunzá, elas
vendiam acarajé, as chamadas negras vendeiras, que na Bahia, botaram o nome de
mulheres do partido alto (...) então, com essas vendas, elas começaram a
comprar os seus pares e também a comprar seus companheiros tanto maritalmente
como companheiros da escravidão (...). A partir daí, elas conseguiam a alforria
e a independência econômica primeiro do que os homens (...) talvez tenha sido
Iemanjá que deu essa força pra elas e Oxum, as Iabás certo, porque eu acredito
que, como vieram pelo oceano, Iemanjá que deixou elas chegarem aqui, então eu
acho que Iemanjá olhou assim e disse “Na África quem comanda são os homens, mas
quem vai comandar no Brasil somos nós as mães, as mulheres”. Aí houve essa
troca, as mulheres vão e formam os primeiros candomblés, porque a maioria era
tudo sacerdotisa ou iniciada na religião dos antepassados dos orixás
divinizados - e com a escravidão eles tinham que fazer mil peripécias,
às vezes até faziam um samba, os
senhores de engenho pensavam que era um samba, mas na verdade eles estavam
louvando os orixás - aí essas velhas, que ficaram três famosas na Bahia foram
Iyanassô, Adetá e Iyakalá. Adetá faleceu, Iyakalá voltou para a África e
Iyanassô permaneceu no Engenho da Casa Branca, no Engenho Velho, em Salvador.
Dessa casa matriz, aí vocês já sabem a história né, surgiram as principais
casas de Salvador, que regem soberanas: o Gantois, o Afonjá e a Casa Branca
O que impressiona é como, na
mitologia que dá base ao candomblé e à umbanda, a mulher está, em muitos casos,
acima do homem, em posição principal em grau de importância. Essa posição ajuda
a explicar mais sobre a respeitável posição feminina presente na religiosidade
hoje. Sobre as mães ancestrais, importantes entidades das religiões
afrobrasileiras, que são muito temidas, diz-se: O seu marido desempenha rápido
papel fecundante, qual zangão, e depois ela o mata. “Ela é o poder em si, tem
tudo dentro do seu ser. Ela pode tudo. Ela é um ser auto-suficiente, ela não
precisa de ninguém, é um ser redondo, primordial, esférico, contendo todas as
oposições dentro de si. Awon Iyá wa são andróginas, elas têm em si o Bem e o
Mal, dentro delas elas têm a Magia e o encantamento, elas têm
absolutamente tudo, elas são perfeitas”
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